domingo, 22 de março de 2009

Gente coisa


Ser criança - Vila Velha, upload feito originalmente por Priscilla Buhr.

Eu queria portas. Portas abertas. Passagens. Não encontrei imagem boa que me servisse. Apenas muitas portas, geralmente fechadas. Queria portas de escola, deviam estar abertas. E este texto deveria ser sobre outra coisa. Escravidão, pessoas transformadas em coisa, objetos. No fundo acho que ainda vai ser.

Coisa é como os pequenos são tratados. Li esta semana texto do Rubem Alves sobre as crianças que não existem, são todos adultos potenciais, futuros produtores de algo. O que vão ser quando crescerem, esta é a questão que guia a educação, de modo que é estranho pensar no que são neste exato momento. São inúteis, não servem, só sabem pensar em diversão, brincadeiras e coisas prazerosas, e cabe a nós, profissionais da “educação”, estirpar a criança e fazer aparecer o adulto produtivo. Temos tempo para isso, doze anos. Autoridade também nos é dada, podemos classificar quantitativamente (ninguém questiona os números) aqueles mais ou menos capacitados. Os pais adoram isso, pedem para que classifiquemos, confiam naqueles que classificam - prova toda a semana, essa escola é forte – e castigam os classificados.



Os professores reclamam: o salário é ruim; os alunos não são bons; ninguém me valoriza. Querem atenção, são egocêntricos. Alguns, bem-sucedidos no egocentrismo, conseguem reconhecimeto, acredito que mais como showmans do que como educadores.



Experiência inestimável, como educador, é corrigir caderno de criança. Como coisa de momento, é fantástico ver como eles percebem o que trabalhamos. Sem contar as coisas que aparecem, desenhos, adesivos e outras coisas que povoam o mundo em que vivem. Como coisa temporal, é bonito acompanhar o crescimento, a aprendizagem, as mudanças ocorridas ao longo do tempo em que convivemos.


Quem chegou até aqui neste post não deve ter sido com muita alegria. Não é um quadro feliz e povoa memória de momentos desagradáveis pelos quais passamos, aos quais muitos pais submetem seus filhos, o que ainda acontece nas escolas. Mas minha mensagem não é de desesperança. Podemos ver nessas pessoas de pouca idade pessoas agora, não futuras. Podemos abrir as portas para que passem, olhem, apreciem e continuem a andar.



Faço minha propaganda. Venham para o GAIA, gostamos de gente feliz.

...

Faço aqui um adendo. Procurei uma imagem de portas abertas e não achei. Felizmente, com ajuda da Bia, agora tenho uma imagem que preste a uma figuração de minha idéia.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito triste isso. A criança não tem mais o direito de ser criança. Bom, pelo menos não de ser criança como nós fomos. Ser criança hoje é pensar desde muito pequeno o que é que se vai ser quando crescer. De modo que o que está sempre jogo é o crescer e o que ela vai se tornar.
Isso me lembra muito a expressão "ser alguém na vida", tão impregnada por um forte conceito de produtividade. Ser alguém é, antes de mais nada, ser capaz de produzir e gerar riquezas.
Coloque aí o nome do texto do Rubem Alves que despertou essa escrita.
Beijos.