sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Pressa


in a hurry, upload feito originalmente por myfear.

Pressa.

Como pular um dia?
Como fazer de sábado um domingo?
Como chegar mais rápido?
Ou fazer que amanhã seja hoje?
Hoje amanhã?
O que for,
Que não seja agora,
Que não seja espera.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Gravilo Princip

Ferdinando e esposa em Sarajevo.

Um acaso desses que acontecem por aí. Em 1914, o príncipe do império Austro-Húngaro Francisco Ferdinando esteve na Bósnia, inspecionando um exercício militar das tropas austríacas.

Estava tudo planejado. Ferdinando seria interceptado em seu caminho para uma solenidade na prefeitura de Sarajevo por uma granada que poria fim a sua vida. Após o atentado, os terroristas sérvios cometeriam suicídio. Por sorte momentânea do príncipe a granada atirada errou o alvo, explodiu no caminhão de soldados que o seguia. O herdeiro do trono austríaco tratou de correr para prefeitura, não muito satisfeito com a hospitalidade sérvia. No caminho de volta visitou os soldados feridos hospitalizados.

Princip e Cabrinovic

Terrorista azarado, Nedjelko Cabrinovic, lançou sua granada. Errou o alvo e fugiu. Ainda em fuga, tentou seguir o plano, engoliu cápsula de cianureto que carregava e foi preso. Vivo ainda, percebeu que o veneno também falhara.

No caminho de volta, o motorista de Ferdinando seguia o caminho estabelecido quando de repente foi avisado sobre uma mudança na rota. Era tarde demais, o desvio já estava para trás. Pegou caminho alternativo para chegar ao novo trajeto. O carro enguiçou e a sorte mudou de lado.

Prisão de Gravilo Princip

Companheiro de Cabrinovic, Gravilo Princip retirou-se da cena do ataque frustrado. Parou para tomar um café e a sorte foi o que encontrou. Ao sair da cafeteria o que viu foi um carro enguiçado, nele estavam Ferdinando e esposa. Dois tiros disparados, duas mortes. Bem treinado, Gravilo apontou sua arma para a própria cabeça. Antes que efetuasse o disparo foi impedido por um transeunte qualquer. Por ser transitória, a sorte partiu e rapidamente Princip estava dominado. Preso, morreu em 1918, aos vinte e quatro anos acometido por tuberculose.

Para o mundo começava a Primeira Guerra Mundial.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Auto-conhecimento

eu

Passei a me ver de forma diferente. Me conheço mais agora que pude me ver por dentro, e compartilho isso com vocês.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Fotografia

Profissionalismo é, sem dúvida, uma palavra que não pode andar junto de minhas fotografias. Mas gosto pela coisa eu tenho. Principalmete depois da invenção das máquinas fotográficas digitais e do Photoshop consegui melhorar muito na função de gerar magens que podem ser apreciadas, mesmo que eu seja o único apreciador do que faço. A cada incursão que faço podem surgir mais trezentas ou quinhentas fotos em meu HD, das quais eu escolho aquelas tocadas pela sorte para trabalhar. O olhar atento substituo pela quantidade de material e habilidade com editores de imagem.

Há quem diga que fotografia digital matou a arte fotográfica. Fotografar envolvia perícia, olhar acurado, cuidados na escolha do filme e na revelação. Pode ser que seja assim, a tecnologia matando a arte. Mas prefiro lembrar das palavras de Sebastião Salgado, que disse certa vez ser o fotógrafo formado por suas características intelectuais, formação humana. O que passa pela cabeça do fotógrafo na hora do clique define a arte, as escolhas sobre o que e como vai ser mostrado. Dessa forma a arte fotográfica não se resume a questões técnicas e a tecnologia democratizou mesmo a arte, ao contrário de matá-la. Não que todas as fotos, capturadas aos milhares nestes tempos, sejam de fato arte, mas os recursos são infinitamente mais disponíveis. É algo parecido com a dança. Qualquer um pode dançar, mas nem todos são Deborah Colker.

Como historiador acho tudo isto mais interessante ainda. Caso não ocorra nenhum cataclisma que ponha fim ao caminho tecnológico que desenvolvemos, impossibilitando às gerações futuras a observação deste mundo de imagens que produzimos diariamente, teremos referências visuais em quantidade sem precedentes na história humana. Se precisamos de imagens para compor a história do franciscanismo na colônia portuguesa na América esbarramos na pouquíssima quantidade de material disponível. Amanhã, será difícil escolher que material é mais relevante entre os milhares que existem.

Tanto discurso eu fiz simlesmente para postar umas imagens produzidas por mim. Pode ser que vocês, meu público, não gostem e critiquem o fato de eu não ser assim tão bom fotógrafo para expor ao desagrado meus leitores. Mas tive a delicadeza de escrever um texto na intenção de não tornar esta visita uma perda de tempo total.

As fotos que seguem fazem parte de uma mania recente, fotografar dias nublados e com chuva. Nada a ver com sentimento de tristeza ou visão lúgubre da existência (se é que algo existe). Apenas vontade de registrar o mundo em momentos não ensolarados, quando o céu é cinza e o verde fica mais vivo. O cheiro de terra molhada infelizmente não pode acompanhar as imagens, mas lembrem-se dele enquanto olham-nas. A chuva tem sua beleza.

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Piratininga, 25/07/2009.

SNC00055

Itacoatiara, 04/08/2009.

P1040783

Parque da Cidade, 12/06/2009.

P1040791 copy01

Parque da Cidade, 12/06/2009.

SNC00029 copy01

Parque da Cidade, 12/06/2009.

Ps. Uma correção é necessária. A primeira foto não é de minha autoria, foi clicada pela Bia, do Ponto-e-vírgula, e está em meu HD.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Divina comédia

Paraíso

Após toda a caminhada pelo inferno e os martírios do purgatório Dante chegou ao paraíso. Conheceu aqueles que, em paz, vivem a eternidade, depois de passar a paz do mundo efêmero. Pensou que um dia, talvez, possa parar neste lugar. Porém, logo em seguida, recriminou-se pela presunção e este lugar com certesa ainda não era o seu. Mas isto não o incomodou, como nada mais podia faze-lo neste mundo. Toda a disposição de enfrentamento estava ausente, por desnecessária que era. Neste estado Dante continuou a seguir sua guia am direção ao próximo círculo.

domingo, 2 de agosto de 2009

Re: O que eu queria te dizer

caminhos

é que eu entendo. Que a paz voltou ao meu reino.

Quando tudo recomeçou, falei, sabendo de toda solidão que poderia me causar, que este era o melhor caminho. Era a minha crença, e ainda é, independente do custo que tenha. Aceito com paz esta distância, por você. Vejo, neste momento, uma das possibilidades de paradoxo já citadas anteriormente. Mas vejo com bons olhos, independente do que isso possa significar nas possibilidades de nos encontrarmos futuramente. Acredito na mudança, sempre acreditei. De certo modo, sempre torci por ela. Não te aprisiono em ressentimento algum. Este seria o erro, todo o resto é legítimo como caminho escolhido. E este caminho, nossa distância, sendo outro, já me alegra pelo simples fato de ver que você não está presa à identidades imutáveis que deixam o mundo sem graça. Aprecio mesmo este momento.

Quero também dizer que, por um momento, não soube lidar com algumas coisas ditas. Reação imediata, resultado de apreciação enevoada da situação. Em resposta, o que pude dizer não foi mais que precipitação insensata. O tempo trouxe a paz e o exclarecimento das idéias, hoje, desdigo o que disse.

Como do futuro não sei, deixo as portas abertas.

Sei que neste momento tenho um texto em espaço público, mas que para o público ficará cheio de buracos na rede de significados. Mesmo assim, publico esta resposta esperando que não tenha te perdido como leitora. Nesta esperança, expresso abaixo estas idéias em versos (mal feitos, mas sinceros). Ainda que nenhuma palavra alcance o mundo, eu sei, ainda sim, escrevo.

O que eu queria dizer

É que eu entendo.

Que eu concordo,

Não carrego disgosto,

Gosto amargo ou dissabor.

Carrego lembranças,

Bons momentos.

É que o futuro não sei,

Nem quero saber.

Se der eu chego lá.

Se te encontrar vou sorrir.

Se você sorrir eu me contento,

Mesmo que distante.

É que não há razão em haver

Desafeto ou mágoa.

Deixo as coisas passarem,

Não seguro, não prendo.

É que acredito.

Que as portas ficam abertas

E por elas podemos passar.

Basta um passo para as mais próximas.

Para as distantes, uma caminhada.

É que eu entendo e te apóio.


Encerro minhas palavras sobre este assunto achando que agora podemos ficar em paz.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Divina Comédia

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Inferno

Continuando sua aventura pelo mundo sem luz, Dante, dirigindo seu carro, passou quatro horas preso no trânsito, percorrendo uma distância de dois quilômetros.

A distância era curta, Dante sugeriu a Saramago que fossem caminhando, mas o mestre explicou que, naquele círculo do inferno, andar não era permitido, pois a única forma de sofrer as penas devidas se dava pelos meios de transporte, coletivos ou individuais. Aos que caminhavam quando possível cabia o purgatório.

No princípio o calor era terrível, e claro, por ser castigo, o ar-condicionado do carro não funcionava. As janelas abertas eram o espaço de entrada para os braços de demônios vendedores (fica a dúvida sobre se eram demônios ou mais almas condenadas) vendiam toda forma de produtos com origem duvidosa. Saramago contou que para alguns, o castigo incluia dores de barriga e a pressa de chegar ao banheiro de casa, causada por balinhas de côco vendidas nos sinais. Ficou claro que nem todos os apressados de trânsito recebiam o mesmo castigo.

Em um segundo momento começou a chover torrencialmente. As janelas tiveram que ser fechadas, o ar ficou abafado e os vidros enbaçados. A água que caia enchia a rua, almentando a tensão de todos no trânsito que estava mais lento. As businas, que tocavam desde o início, agora tocavam de maneira mais frenética. Dante lembrou que passara por situação parecida quando presenciou as penas para os desrespeitosos de ônibus, mas desta vez não estava espremido. Pensou em como estas penas estão ligadas, o inferno dos veículos individuais agravando o inferno dos coletivos.

Observando o carro ao lado, Dante percebeu que as almas que ali estavam (mais de sete, com ceretesa) vestiam roupas leves, como quem sai de férias. Em cima do automóvel, malas e todo tipo de bugiganga imaginável. Claramente aquela família imaginava passar tempos felizes em algum lugar ensolarado.

Chegando em seu destino, nosso herói deparou-se com outro castigo deste círculo. Logo que diminuiu a velocidade para procurar uma vaga inúmeros corpos vestidos por bermudas velhas e camisas estranhas surgiram das sombras. Todos indicavam para para que Dante parasse o carro ali mesmo, na rua, mas solto. As vagas não existiam, em lugar algum. Foram mais duas horas procurando um lugar para estacionar.

Créditos da foto: Marcelo Almeida, engarrafamento em Recife.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Fat food

menu

A rede de lanchonetes Bob´s segue na contramão de suas concorrentes. Enquanto surgem saladas como opção de alimento em redes fast food, o suco deixou de fazer parte do cardápio do Bob´s “Só trabalhamos com refrigerante”.

A The Heart Attack Grill oferece em seu cardápio um pequeno hamburguer com apenas oito mil calorias, com carne frita em banha de porco. As garçonetes atendem seus clientes vestidas de “enfermeiras” bem intencionadas (entendam isso como quiserem). Apresença destas certamente agrada ao ego de seus rotundos clientes, apesar de processo movido pelo sindicato de enfermeiras.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ópio

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Eu não quero ver
Você cuspindo ódio
Eu não quero ver
Você fumando ópio
Prá sarar a dor
Eu não quero ver
Você chorar veneno
Não quero beber
O teu café pequeno
Eu não quero isso
Seja lá o que isso for...


Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
Peixe na boca do crocodilo
Braço da Vênus de Milo
Acenando tchau...


Não quero medir
A altura do tombo
Nem passar agosto
Esperando setembro
Se bem me lembro
O melhor futuro
Este hoje, escuro
O maior desejo da boca
É o beijo
Eu não quero ter o tédio
Me escorrendo das mãos...


Quero a Guanabara
Quero o rio Nilo
Quero tudo ter
Estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo
Água e sal...


Nada tenho
Vez em quando tudo
Tudo quero
Mais ou menos quanto
Vida, vida
Noves fora zero
Quero viver, quero ouvir
Quero ver...(2x)


Eu não quero ver
Você cuspindo ódio
Eu não quero ver
Você fumando ópio
Prá sarar a dor
Eu não quero ver
Você chorar veneno
Não quero beber
O teu café pequeno
Eu não quero isso
Seja lá o que isso for...


Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
Peixe na boca do crocodilo
Braço da Vênus de Milo
Acenando tchau...


Não quero medir
A altura do tombo
Nem passar agosto
Esperando setembro
Se bem me lembro
O melhor futuro
Este hoje, escuro
O maior desejo da boca
É o beijo
Eu não quero ter o tédio
Me escorrendo das mãos...


Quero a Guanabara
Quero o rio Nilo
Quero tudo ter
Estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo
Água e sal...


Nada tenho
Vez em quando tudo
Tudo quero
Mais ou menos quanto
Vida, vida
Noves fora zero
Quero viver, quero ouvir
Quero ver
Nada tenho
Vez em quando tudo
Tudo quero
Mais ou menos quanto
Vida, vida
Noves fora zero
Se é assim, quero sim
Acho que vim prá te ver...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Eu não acredito

Uma das coisas que nunca passou pela minha cabeça é a morte do Michael Jackson. O que isso quer dizer? Quase nada, afinal, tanta coisa nunca me passou pela cabeça, como por exemplo uma forma de ter a mesma grana que o Michael. Mas de qualquer forma, MJ morto é coisa estranha. Ele ultrapassou a humanidade que faz de todos nós mortais para se tornar coisa. Ultimamente era isso, uma coisa estranha, cara branca, nariz afinado. Antes disso, era coisa da música, astro pop como nenhum outro, provavelmente o maior. Como coisa, duvido que tenha morrido.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Fast Medicin

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Cinco minutos, é o tempo necessário para diagnóstico médico desde que entramos na era da Fast Medicin. É o MacDonalds da saúde.

Primeira consulta: Depois de quase uma hora hora esperando em uma sala lotada, minha consulta, que havia sido marcada, finalmente ocorreu. Entrei e começou.

Médica – O que houve?

Eu – Labirintite.

Médica – Você tem tontura?

Eu – Sim.

Acabou, a médica me deu um pedido de exame e uma folha explicando o que evitar. Eu entrei, dei o diagnóstico e recebi de volta um folheto com informações que encontro na internet.

Descontente com a primeira tentativa de encontrar uma solução para mau problema, resolvi procurar uma segunda opnião, se é que houve primeira. Desta, por circunstâncias da vida, carreguei não só a labirintite, mas ouvido entupido e pigarro.

Médico – Então?

Eu – Tenho três problemas. Labirintite, prigarro e ouvido ruim.

Médico – O pigarro você tem que ver com um gastro. Seu ouvido vai ficar bom e labirintite na sua idade é emocional. Pode ir.

De novo, menos de cinco minutos. Não vou tentar a terceira consulta.

domingo, 21 de junho de 2009

Futebol

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Comentários futebolísticos não são muito a minha praia, mas o resultado de hoje, na copa das confederações é realmente estranho. Itália desclassificada e EUA não.

Estados Unidos entraram na copa com uma seleção fraca, a mais fraca da chave. A Itália não veio com o melhor time de sua história, mas tinha condição de rivalizar com o Brasil. Acabou eliminada na primeira fase.

Feliz está a seleção espanhola, ganhou uma vitória de presente.

domingo, 7 de junho de 2009

Eu agradeço

SNC00138

Dedicatória

Bia Loivos

Adjetivos não qualificam – aprisionam

Ele não quer se reconhecer

nas palavras definidoras (definitivas?):

vê ali sentenças

onde outros tentam elogios.

não crê no eu, não vê o outro.

Para ele, o que existe é o meio.

Anda no meio do caminho.

ele caminha

no meio das pessoas, metades de gente.

De si, só sabe o que vê no espelho.

Olhos do pai, nariz da mãe, barba dele mesmo.

Boca pra comer, pra dizer e pra amar.

Encara-se, mas não pergunta nada.

Engole a angústia

sai pra rua.

Quer viver, apenas.

E está de bom tamanho.

28 de maio de 2009.

domingo, 24 de maio de 2009

Fofoca na calçada


Fofoca na calçada, upload feito originalmente por lucas braga.

Mais ou menos reposta ao comentário sobre o post João e Maria.

É difícil saber como começou a história, principalmente porque vem da tradição oral. É como brincar de telefone sem fio quando morre o primeiro da fila. Nunca saberemos ao certo a história original. Ao longo do tempo , elementos podem, e provavelmente foram inseridos e adaptados, causando mudanças no conto. O que os Grimm e Perrault fizeram foi transcrever as histórias, limpando o que acharam necessário para uma adaptação literária. Muito do que eram estes contos pode ter sumido neste processo. Podemos colocar também que os contos, enquanto parte de tradição oral, dependem da forma como são narrados, entonação de voz, gestos e uma série de elementos que não cabem nas letras, exceto como adaptação, quando são mencionados. Algo como a necessidade de descrever cenários, ou dizer que o sol nasceu, para que o leitor entenda (visualize) melhor o que acontece.

Tudo que vem após Perrault e os irmãos Grimm pode estar comprometido por estas adaptações. As versões narradas por Michèle Simonsem pretendem transcrever a tradição oral sem "censuras" literárias. Uma tarefa árdua. Mas sendo posterior as empreitadas dos Grimm e de Perrault, não há como garantir que não tenham recebido alguma influência destes. O oral pode ter se alterado pelo que foi escrito. Claro, nada disso tira o mérito de Michèle, nem a importância de seu trabalho. Achamos em seu livro versões moralistas e mais cruas das histórias. A do Barba Negra é ótima. Ao que parece os Grimm e Perrault amorteceram os contos para atender a uma nova forma de entender os pequenos seres humanos, que passamos a chamar de crianças, preocupação ignorada por Michèle.

...

Imagino como seria hoje um conto de lendas urbanas para crianças. A história do homem que teve seu rim roubado e ficou largado em uma banheira certamente não seria a mesma. Não sei onde surgiu, e já a escutei em várias versões, todas mantendo alguns elementos centrais: o homem enganado por uma mulher que após drogá-lo retira um de seus rins e o larga em uma banheira cheia de gelo e um recado para que procure um hospital. Não sei nem mesmo se existe uma história de origem para esta lenda. Contudo sei que ela conseguiu se espalhar e deixou muita gente (adultos) com medo de aceitar coisas de estranhos.

...

Sobre o trabalho de crianças na televisão ser tratado como "um trabalho como outro qualquer". Melhor seria dizer "um trabalho infantil como outro qualquer".

Café

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Como de costume, pedimos um café após o almoço. O garçom prontamente nos atendeu e informou que hoje o café é cortesia da casa. Por que?  Porque hoje é o dia mundial do café. Justamente domingo, o dia em que menos o bebo. De bom grado, aceitamos o agrado e aproveitamos o café forte ao meu gosto, com pouco açúcar.

Não se sabe ao certo a origem da utilização da fruta africana de forma torrada e moída. Existem registros de seu consumo in natura já no século VI da era cristã, e talvez tenha virado bebida no século XVI.

Durante o século XIX e princípio do século XX teve grande importância para a economia brasileira. Entrou no país pelo norte, chegando ao Vale do Paraíba e posteriormente ganhando força no oeste paulista. Sua produção trouxe também força política no jogo que ocorria entre as províncias, que posteriormenete viraram estados. Durante os anos de pujança do café em nossas terras o Brasil chegou a responder por setenta por cento da produção mundial.

Difícil achar hambientes de trabalho em que não haja café, geralmente pago pela empresa. O café acompanha o trabalho, e não é a toa. O gosto pela bebida acompanhou o processo de formação do mundo capitalista, com suas novas relações de produção. O café com açúcar é boa fonte de energia para quem precisa trabalhar horas a fio. Então o casamento bebida/trabalho é bem sucedido pela ótica da produtividade.

Já tentei me divorciar algumas vezes do café. A relação que temos acaba com minha saúde vocal, mas o vício é mais forte. Um dia devo pagar por meus hábitos de consumo exagerado da bebida.

João e Maria


Meninada, upload feito originalmente por Priscilla Buhr.

Nada de casa de feita de doces. Nada de crianças perdidas e finais felizes. Esta semana lemos Contos populares de Michele Simonsen, uma tentativa de contar as histórias seguindo a tradição oral que as passou de geração em geração. Independente dos questionamentos que podem ser feitos a essa idéia de "resgate", principalmente após as investidas literárias de Charles Perrault e dos irmãos Grimm para transformar em escrita estes contos, vale a leitura.

Então, João e Maria tinham pais avarentos, que cansados de alimentá-los, decidiram perder as crianças na floresta. Enganados, perdidos, avistam duas casas, uma vermelha e outra amarela. Decidiram procurar ajuda na casa vermelha. A dona (nada de bruxa) resolve acolhe-los, mas avisa que seu marido não gosta de crianças e que caso descubra a presença deles ela levará uma surra e os dois virarão janta. Claro, o marido descobre, a mulher leva sua surra, Maria vira escrava doméstica e João é preso na gaiola para engordar. Na primeira oportunidade João escapa, com a ajuda de Maria, degola a mulher que os recebera e ambos fogem, mas não sem carregar o dinheiro do casal. O homem os persegue e morre afogado em um rio. João e Maria, agora carregando o tesouro são recebidos por seus pais, satisfeitos com o dinheiro recebido. Moral da história, não importa o que seus pais façam, volte sempre para eles, respeitosamente e com dinheiro.

Entre tantos contos do livro, todos moralistas, escolhi este para fazer minha recomendação por uma razão, a proteção à criança e ao adolescente. Em muitos casos há unanimidade na consideração de maus tratos, mas em outros parece que as coisas ficam mais turvas. É o caso das crianças que trabalham em programas televisivos. O dinheiro e o estatus enevoam o julgamento sobre este tipo de trabalho infantil, mas esta semana tivemos decisão exemplar da justiça em sentido de proteger uma criança exposta a situação no mínimo constrangedora. A menina Maísa não poderá mais ser posta no programa "Pergunte a Maísa", no canal SBT. Acredito que todos já viram a cena pelo youtube, então não preciso comentá-la. Fica minha alegria pela decisão.

sábado, 23 de maio de 2009

Caminhos

A vida realmente é coisa interessante com suas idas e vindas. Os rumos vão seguindo sem que percebamos, muitas vezes causando sensação de impotência quando nos encontramos em determinados lugares. Perguntamos “como cheguei aqui?” como se andassemos de olhos fechados, guiados por alguém responsável por nossa posição. Outras vezes percebemos como chegamos, mas não queremos olhar pra trás e ver, de forma crua, o caminho percorrido por nossa própria vontade. Tem também os momentos em que fazemos nossas escolhas no caminhar, de forma assumida. Notamos o que é deliberado. De toda forma, as possibilidades não nos evitam sofrimento, tempos de desagrado e a ausência. Em algumas trilhas, não importa como pisemos, que tênis calçamos, isso é o que temos, dor.

Os caminhos podem passar pelas mesmas paisagens, trazendo recordações de lugares visitados. Cidades, momentos, pessoas, coisas que constituem a paisagem da vida. Parece um trajeto circular, que não é. Um sentimento de familiaridade conforta enquanto andamos, afinal, bem melhor andar em terreno conhecido, mesmo que difícil.

Tentamos seguir, em frente ou pro lado, tentamos seguir. Traçamos nosso trajeto e, passo a passo, avançamos. Desviamos de árvores, e, uma a uma, saimos do plano. Por isso nunca temos certeza de onde estaremos amanhã, sabemos das árvores. Pra não falar de riachos e até montanhas que resolvemos contornar para chegar onde queremos.

Pode acontecer de chegarmos e então aparecer a pergunta “O que vim fazer aqui?”. Dá vontade de andar de costas, o que gera tropeços. Ficamos perdidos em um ponto em que nada parece fazer sentido, mas o caminho já foi andado.

Desta vez não tem imagem. Por que? Porque não quis. Imaginem, cada um, seus próprios caminhos. Percorram, em imaginação, por onde quiserem. Minhas imagens de caminhos não poderão se comparar.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Meio atrasado

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O tempo em nós.

Ando meio atrasado nestes tempos. Chego sempre atrás do tempo, que não se importa muito comigo. Segue em frente e cada vez mais fico distante do presente. No passado, sem sair de onde estou, quando apareço, já era. Então, tenho que correr.

É assim o tempo todo, correria. Ao longo do tempo, o tempo vem ficando mais escasso para a vida. Os relógios são boa representação disso. A alguns séculos tinham somente um ponteiro. Pra que contar mais que isso? A industrialização arrumou resposta para essa pergunta. O tempo domesticado produz mais, tempo é dinheiro. Desde então o homem vê-se preso as inúmeras obrigações cotidianas com hora marcada. Hora de acordar, tomar café, pegar ônibus (que nunca tem horário), etrar no trabalho, etc. O tempo tomou o lugar das tarefas como guia do dia.

A ordenação de afazeres, assim guiada, é social. Não escolho meu horário de trabalho e nem mesmo me sinto preso, apesar de por vezes oprimido. Por conta disso penso em atraso quando não cumpro algum tempo convencionado. Reproduzo a lógica por impossibilidade de agir diferente. Se por acaso resolver que devo trabalhar oito da noite não encontrarei alunos em sala. A convivência obriga a aceitação para que a vida em comunidade seja possível. Assim fomos criados, assim entendemos o mundo.

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Nós no tempo.

O tempo ainda é mestre de outra maneira. Temos dimensão temporal em nossas vidas. Pensamos em passado, presente e futuro. Analisamos e fazemos ligação entre três tempos. As tomadas de decisão geralmente são feitas a partir de experiências passadas, vividas ou não, e direcionam/almejam um futuro mais, ou menos distante. Mas, como tudo é presente, e é neste tempo que decisões são tomadas, passamos a eternidade (enquanto dure) decidindo. Ou seja, vivemos no presente, com a cabeça em outros tempos.

Como a vida é viva (pleonasticamente falando) e as coisas mudam sempre temos a possibilidade de, amanhã, discordarmos das atitudes que tomamos hoje. Mas então, hoje será o passado e como o tempo é inexorável só resta o amargo gosto da aceitação.

Mudanças e permanências.

Lidar com isso não é fácil. Conseguir entrosamento satisfatório entre os tempos que vivemos também não. Mas compreender que a vida tem tempo é passo importante. Entender que o tempo é atravessado por mudanças e permanências é o ganho. Se não podemos mudar as decisões no passado, que nos trouxeram ao presente que vivemos, podemos agir no presente para um futuro que está aberto.

Recomendações

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De repente me deparei com esta imagem. Os velhinhos cercados de paisagem e fones de ouvido. Imediatamente lembrei de um post que li a algum tempo no blog da Bia, baseado em texto de Rubem Alves. Era sobre escutar. Ou o ato de não escutar, fingindo escutar. Faço então minha referência à referência e recomendo a leitura.

Aproveitando a indicação de leitura acima, faço também jabá do blog Ondas de Poluição. Os textos me surpreenderam. A escritora tem pouca idade, mas isso não a impede de fazer bem poesia, assim como escreve em prosa. Vale conferir.

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Então, fechando as recomendações do dia, indico Othello, de Shakespeare, filmado por Orson Welles. Intriga de ótima qualidade, questionando os locais ocupados pelo teatro no mundo. As representações no cotidiano são pensadas por Shakespeare já no século XVI, fazendo do teatro uma prática comum fora dos palcos. Toda a história armada por Iago nada mais é do que isso, um teatro criado e representado no mundo real, de forma sorrateira, enganando pessoas e guiando ações. A mesma tensão está presente em Hamlet, quando nobres vão ao teatro assistir uma peça que, com a mentira da arte, diz a verdade sobre aquele mundo, enquanto na plateia as pessoas de berço encenam para encobrir a realidade.

De certo modo, Shakespeare está mais próximo de Matrix que Baudrillard (para quem os irmão Wachowski não entenderam nada sobre Simulacros e simulações), pois pensa em uma verdade que existe, contraposta a mentira.

O que fez Orson Welles?

Em tempos de poucos recursos cinematográficos, entendeu que filmar teatro dispensa apresentações comuns ao texto, principalmente os escritos antes da luz elétrica. Durante o século XVI as peças eram representadas durante o dia, aproveitando a luz do sol por questões óbvias. Qualquer passagem noturna precisava de narração que localizasse os personagens no tempo. Hoje parece claro que estas cenas devem ser descartadas em montagens cinematográficas de peças de teatro, mas não era quando o cinema estava mais jovem. Orson Welles entendeu bem a idéia de adaptação.

A união de um cineasta que acerta com uma boa história resultam em um filme excepcional. Assistam.

domingo, 17 de maio de 2009

Abelhas

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Trinta por cento, é a estimativa de responsabilidade das abelhas na produção de alimentos pelo mundo. Mas estão morrendo, ano após ano, sem explicação. De repente não voltam para casa (colméias) após o trabalho. Criadores de abelhas americanos perceberam o fenômeno e entraram em contato com pesquisadores universitários. Até agora só existem suspeitas, que recaem sobre uma confluência de fatores relacionados a nutrição, agrotóxicos e doenças.

Os três fatores estão relacionados a forma como os seresm humanos produzem seus alimentos. Os agrotóxicos não estão presentes em todos os casos de morte das colméias, abelhas que polinizavam plantações organicas também foram atingidas. Mas os outros fatores estavam presentes e são potencializados pela criação ou pela utilização de abelhas em monoculturas.

Novidade pra mim que abelhas são alugadas para polinizar plantações mundo afora. Este trabalho garante uma variedade de vegetais em nossas mesas. As colméias são levadas para fazendas e deixadas por um tempo polinizando. Geralmente as abelhas trabalham em monoculturas, o que não garante variação nutricional para os insetos. A criação tambem facilitou a propagação de vírus que atinge as abelhas.

Segundo os pesquisadores não haverá extinção de abelhas, nem dos alimentos que dependem de polinizadores silvestres. O problema é que possivelmente o preço vai subir, devido as dificuldades de produção ocasionadas pelo pouco número de abelhas. Claro, também haverá problemas para as famílias que vivem do aluguel de abelhas.

Fonte: Scientific American, maio de 2009.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mexicanos

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Abracemos nossos irmãos mexicanos. Não só porque nos deram o Chaves. Não só por Zapata. Abracemos logo, pois se pegarmos antes a gripe suína (ou seja lá como a chamaram para não prejudicar a venda de carne), talvez possamos ter um atendimento médico aceitável dentro do quadro absurdo em que se encontra a rede de sáude brasileira.

Segundo especialistas, a tal gripe vai atingir 100% da população. É apenas uma questão de tempo para isso acontecer. O vírus espalha-se pelo ar, de forma rápida. O doente precisa ficar internado, sob cuidados médicos. Em casa, o risco de morte é maior. Fiz uma rápida pesquisa pelo site do IBGE para ter uma idéia melhor do que isso pode representar em minha cidade. Existem 2534 leitos em Niterói, destes, 1024 estão na rede pública de saúde e 722 na rede particular atendendo pelo SUS. O restante das vagas, só pagando. O município possui 474 mil habitantes. Divisão rápida com ajuda, são 187 pessoas para cada leito. Caso a gripe realmente se alastre teremos problemas amplificados com uma rede hospitalar insuficiente. Claro, nem todos vão adoecer ao mesmo tempo, porem somos forçados a lembrar que nossos suinamente gripados compartilharão leitos com vários outros internados. Atualmente, sem pandemia, está dificil arrumar vaga em hospital nesta cidade, mesmo pagando por isso.

Niterói não é boa medida para o Brasil, claro. Estamos entre as cidades com maior IDH do país. Então Sebastião, vamos fazer os cálculos para a cidade vizinha, São Gonçalo, mais pobre e populosa que Niterói. Com uma população de 960.631 pessoas e 1991 leitos a relaçao é de 482,5 pessoas por leito. A situação é mais complicada ainda em Maricá, outra cidade contígua, são 1012 pessoas por leito. A coisa não muda nos outros municípios ao redor de Niterói, até mesmo a capital conta com um leito para 209 habitantes. Caso chegue mesmo a pandemia, teremos problemas.

Caso não chegue gripe alguma, ainda temos um grande problema. Não há vagas que cheguem para os cidadãos do estado do Rio de Janeiro. Duvido que seja diferente em outros estados, São Paulo (capital) tem um leito por 469 viventes. Em Brasília? 494 por um. Não é a toa que as notícias sobre pessoas atentidas em corredores de hospitais são comuns. Nossa rede de atendimento não é capaz de suportar o cotidiano de atendimentos, não é necessário que eventuais emergências exponham suas deficiências. Isso falando unicamente sobre a capacidade de atendimento do sistema, não tocamos no assunto qualidade de atendimento ou prevenção de doenças.

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Por isso defendo um programa de contágio planejado, com senhas, para que possamos dividir, ao longo do tempo, os pacientes, de forma que fique distribuída a quantidade de pessoas atendidas por mês, sem confusão. Caso não topem minha proposta, vou correr e abraçar todas as mexicanas que encontrar pela frente, um ato de solidariedade, na esperança de compartilhar, também, o Influenza A (H1N1). Os primeiros infectados recebem tratamento especial.

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Enquanto escrevi este post o Ministério da Saúde confirmou os primeiros casos da gripe no Brasil.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Ilha solteira

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Outro dia li no blog da Bia sobre a medida tomada em Ilha Solteira sobre o horário em que adolescentes devem correr das ruas, sob pena de recolhimento caso não o façam. Primeiro pensei em comentar sobre o autoritarismo da medida ilhense, cheguei a fazê-lo. Depois, quando li a matéria, mudei de idéia. Tem aí uma discussão diferente. O que é da esfera privada e o que é público. Geralmente entendemos que esta responsabilidade cabe aos pais, mas uma parte dos ilhenses, por alguma razão, a passou para o Estado. Se desresponsabilizaram de parte do trabalho que lhes cabe.

A criança ou adolescente em risco deve ser protegida, antes de tudo, por aqueles que detem sua guarda. Caso os pais considerem que a presença de seus filhos na rua, a partir de determinado horário, seja nociva, devem impedi-los de sair. É assim na lógica de direitos e liberdades individuais que geralmente adotamos na criação de nossas crianças. Esta é a logica que imperou no caso dos pais que decidiram educar seus filhos em casa. Revoltaram-se com o processo movido contra eles, e receberam apoio de parte da mídia, entendendo que a educação de crianças está na esfera privada, longe da possibilidade de ação do Estado. Estavam legalmente enganados, neste caso o direito diz que os pais não podem fazer o que bem entendem da educação escolar de seus filhos, a sociedade representada tem soberania. A “melhor” argumentação destes pais era que seus filhos sabiam tudo para passar no vestibular, prova educacionalmente condenada. “Veja bem, meu filho é bom no que só atrapalha, então me deixem em paz”.

Há o caso dos pais que preferiam deixar o filho morrer à permitir uma tranfusão de sangue. Questão religiosa em conflito direto com o direito a vida. Decisão privada ou pública? O direito a liberdade religiosa ou a vida , ambos garantias individuais? Voltando ao caso de Ilha Solteira, o juiz argumentou que o toque serve para “proteger o cidadão que está com seu intelecto e moral em desenvolvimento”, então temos segurança versus liberdade, direito individual e coletivo. É uma mistura de responsabilidade privada e pública.  Se adolescentes compram bebida alcoólica em bares pela madrugada os pais os proibem de sair, o Estado prende que vende a bebida a menores e tudo se acerta, sem portaria alguma. Vamos colocar nossos jovens em situação comparável  a história “Eu robô”, em que, para proteção da humanidade, o cérebro positrônico (a palavra computador ainda não fazia parte do vocabulário) resolve prender todas as pessoas e criá-las em cativeiro. O argumento da segurança está, aos poucos, ferindo direitos individuais.

Certa vez alguns pais vieram me reclamar que a escola não tomava providências em relação aos seus filhos que, após o termino das aulas, iam para um bar. Novidade para mim, não para eles. Bastava que dessem um telefonema para o Disque denúncia, mas não o fizeram. O dono do bar seria preso e seus filhos estariam seguros.

Um ano e meio morando na China, país com mais de um bilhão de habitantes, não foi o suficiente para que meus pais vissem muitas crianças chinesas. Ao menos não durante a semana. Não há toque de recolher, os pequenos estão na escola. Muitos só vão para casa sexta-feira. Culturalmente entendem a educação como coisa pública, para a sociedade.

Uma dúvida ficou. O judiciário age quando cutucado, somente assim. Como um juiz entrou nesta história?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Preso no tempo


Relógio (Clock) - Paris, upload feito originalmente por Japa Back to Floripa!!!.

Ê coisa difícil. Falta tempo pra vida na medida inversa em que faço mais coisas. O tempo falta por que faço mais coisas. Otimizo e ainda assim me falta. Faço mais e ele fica menos, não dá pra ser assim.

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Em sala de sete e meia as dezoito horas. Meia hora de almoço. No tempo livre correção. Fiz tudo e no fim, não fiz. Precisava de mais tempo, arrumar mala, limpar o quarto que ficou sujo de obra, comer, descansar e simplesmente ficar a toa. O tempo é assim, a gente aperta e continua não cabendo.

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O tempo do ócio. O ócio que é ócio, em contraposição ao ócio produtivo capitalista. Ócio livre, relaxado e sem compromisso. Ócio por direito, ou mesmo invertido, sem direito algum.

terça-feira, 21 de abril de 2009

O maníaco da faca


All men are bastard knife-block, upload feito originalmente por endraum.

Outra madrugada dessas, vindo do trabalho, Tico (nome fictício usado para preservar a identidade da vítima) foi esfaqueado. Desceu do ônibus como sempre fez, foi para casa como nunca. O esfaqueador estava no ponto, esperando alguém. Atacou, machucou e fugiu. A vítima reagiu, talvez tenha sido mais difícil que supunha o maluco.
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Atendido no Hospital Universitário Antônio Pedro, Tico não corre mais risco de vida. O hospital estava em greve, abriu uma excessão naquela noite. O atendimento continuou em rede particular, com ameaças de processo contra o plano de saúde, que negava a necessidade de atendimento.
...
Nesta madrugada, no mesmo ponto de ônibus, o maníaco foi preso. Estava lá, aguardando mais uma vítima. Com ele estavam a arma utilizada nos ataques, um canivete e uma camisa extra. Reconhecido por Tico na mesma madrugada, responderá a processo por tentativa de homicídio.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Heavy Metal do Senhor

Senhor metaleiro. Mais, derrubando o Diabo das paradas. Uma cruzada musical, com armas iguais.

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Séculos atrás foram espadas e o Diabo estava com os muçulmanos, mentirosos, enganadores, infiéis e indignos, segundo uma lógica valorativa meio doida inventada pelos cristãos. Engraçado é que muçulmanos não entendiam nada disso, só viam gente doida, saindo de longe por uma terra argumentando que era coisa de Deus. Hoje em dia os muçulmanos voltaram a fazer parte do "eixo do mau" no imaginário ocidental.

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Disputaram minha alma outro dia desses. Não foram evangélicos, mas o pessoal da Johrei. Não nego que acho bom gente querendo o bem de outras pessoas. Ganhei um ikebana, repassei-o para alguém que acredito mais estressada do que eu sou.

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Pensaram em criar uma delegacia para crimes religiosos, alguma coisa para investigar atos discriminatórios nesta disputa pelas almas dos seres viventes. Algo a ver com as insistentes quebradeiras de centros espíritas promovidas por evangélicos (sem generalizar) no Rio de Janeiro.

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Outro dia, em coversa boa, lembrei da cruzada marxista pela alma proletária. Como foi acreditar que bastava mostrar a "verdade" sobre o mundo àqueles incultos trabalhadores para que, unidos, derrotassem os mentirosos, ardilosos, indígnos burgueses.

Divina Comédia




Inferno

Logo que chegou a porta do inferno, Dante deparou-se com enorme fila. Seu guia, Saramago, alertou-o que as filas são comuns no reino da infelicidade eterna. Esta primeira, era para marcar data em que deveria comparecer à repartição responsável por emitir documentação exigida pelos porteiros ifernais. O guia de nosso heroi explicou – Quatro são os documentos que deverás carregar por todo o tempo em que estiveres no inferno: primeiro deverás provar que chegastes a este mundo, com data, hora e o nome daqueles que te trouxeram, além, é claro, de testemunhas que comprovem a veracidade de tua chegada; segundo, terás que dizer a todos quem tu és, logo, te darão uma identidade em papel, com teu nome e um dos dedos, será seu primeiro número; terceiro, e logo depois, entrarás na fila para saberem que tu existes como devedor do Leviatã, pagador de todas as taxas impostas para garantir a continuidade de serviços deste inferno; por último, mas não menos importante, precisarás registrar tudo o que fizer como ofício, então tens de ter um documento para seus trabalhos, sem isto não sairás do limbo. Ainda será bom se portares papel dado pelos representantes de Deus, para que fique sempre claro que sabias por que leis seria julgado – Assim, tão obrigado quanto foi sua estada no inferno, Dante apresentou-se aos funcionários responsáveis e retirou a documentação nescessária. Tudo passou rápido, Dante entrava como convidado compulsório, não esperou em filas e foi diretamente atendido. Claramente, ver Dante passar a frente fazia parte do inferno de outros.

“Vai-se por mim à cidade dolente,

vai-se por mim a sempiterna dor,

vai-se por mim entre a perdida gente.

Moveu justiça o meu alto feitor,

fez-me a divina Potestade, mais

o supremo Saber e o primo Amor.

Antes de mim não foi criado mais

nada senão eterno, e eterna eu duro.

Deixai toda esperança, ó vós que entrais.”

Imagem de A Porta do Inferno, por Auguste Rodin, inspirada na obra de Dante. Inscrição neste mesmo portão, por Dante.

domingo, 12 de abril de 2009

O que seria se não fosse

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Retornei.

Minha idéia era fazer isso com assunto novo, mas o jornal deste domingo não permitiu. Como sempre fui folheando a mídia, lendo o que me interessa e pulando aquilo em que não enxergo relevância. Li sobre a proposta que deve acabar comos vestibulares. Coisa boa, nada mais de jovens no vestíbulo estressante para a educação universitária. Nâo vai acabar com a seleção (a oferta aina é menor que a procura), mas talvez com o sofrimento e, assim espero, libertar o ensino médio da lógica “isso cai no vestibular” que coloca o objetivo de anos de estudo em uma prova que deixará de fora a maioria dos estudantes.

Seguindo adiante no jornal reencontrei o assunto favela. Dessa vez falava-se sobre  remoção. Era uma tentativa de melhorar a imagem que esta atividade tem. Ok, opinião do jornal O Globo. A matéria veio estampada com foto grande mostrando o que seria a favela da Catacumba (Lagoa) caso não houvesse a remoção. “O que seria se não fosse” deveria ser o título do texto escrito por quiromantes e sustentado por estudos de astrológos de instituições famosas. A afirmação é enfática, não há um “se” ou “talvez” escrito, colocando o dito no campo das possibilidades do que não é. No lugar de astrólogos aparecem engenheiros e seus estudos racionais (desde quando é racional afirmar o “se”).

Anteriormente postei sobre o défcit habitacional do Rio de Janeiro,capital. Obviamente, como a população continuou a crescer e as pessoas querem morar, a expansão das favelas não parou. A remoção “salvou” a paisagem da Lagoa, impedindo a imagem da pobreza nos morros em seu entorno,enquanto o resto da cidade as via cada vez mais presentes. Difícil ignorar sua presença, as favelas estão aí, com ou sem remoção, urbanismo ou qualquer iniciativa estatal já tentada.

Não entendi ainda onde querem colocar os brasileiros pobres, mas parece que é bem longe e cercados por muros. Não pode ser campo, afinal, assentar pobre em área rural é coisa de MST.

quinta-feira, 9 de abril de 2009


Infelizmente, problemas técnicos me impedem de atualizar o Então Sebastião durante esta semana. Espero que logo esteja tudo resolvido.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ainda os muros

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Comuns em cidades medievais, os muros protegiam moradores contra ameaças externas em um mundo em que a violência era grande. Guardavam pessoas em quantidades de 5 a dez mil, com algumas exceções, no espaço de algum senhor.

Comuns em cidades contemporâneas, os muros protegem os espaços privados contra ameaças externas e olhares curiosos. Guardam quantidades imensas de pessoas, as vezes mais de um milhão, e colocam limites ao que é público.

...

Niterói é uma cidade atípica em seu estado e no Brasil. Está entre as melhores qualidades de vida do país e possui parte considerável de sua população enquadrada no que chamamos de classe média.

Como em muitas cidades, os muros estão presentes. Nem sempre separam o privado do público. Construídos ao redor de casas, sim, mas também feitos cercando quarteirões, ruas e tudo o mais que estiver dentro de seu perímetro. São condomínios tranformando em privado o que é do público, impedindo o acesso à ruas e praças. Apropriação indébita em nome da segurança de quem pode pagar por terra.

O público tem preço. Depois de anos de ocupação, os condomínios receberam proposta para comprar o que foi ocupado. Ao que parece a atual administração não tocou mais no assunto e também esqueceu do que foi tomado ao povo. O Ministério Público lembra.

sábado, 28 de março de 2009

Muros

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Aos duzentos e vinte anos antes de Cristo, aproximadamente, os chineses começaram a construir sua grande muralha. Com o passar dos séculos, esta se tormou a maior de todas as muralhas do mundo. Mongóis que deveriam ser parados não o foram. Hoje a China não teme invasões. Muralha da China, 220 a.C.-.

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A Inglaterra conta com uma muralha, atravessando a ilha, próxima a fronteira com a Escócia. Foi construída por Adriano (76-138), imperador Romano, no século II. Sua intensão era proteger a fronteira de um império grande demais contra os povos “bárbaros”, pictos e escotos. O império recuou, os “barbaros” entraram e por sua vez, foram invadidos pela fé cristã de uma igreja romana para a qual não houve barreira. Muralha de Adriano, século II-.

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Terminada a Segunda Guerra Mundial, URSS, EUA, Inglaterra e França dividiram a Alemanha derrotada em territórios controlados. Três territórios ocupados por forças capitalistas, um socialista. Resultado, 65 quilômetros de muro dividindo a capital alemã, famílias, amigos, pessoas mortas e uma festa quando a marreta o derrubou. Muro de Berlim, 1961-1989.

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Os judeus guardam duas histórias interessantes com os muros. Na primeira, estes serviram para isolá-los em guetos na alemanha nazista. Os guetos eram a materialização espacial de uma condição que não permitia a judeus ocupar cargos públicos ou casar com quem entendessem. Estes muros tiveram uma variante, as cercas dos campos de concentração, onde judeus não só eram isolados, mas também exterminados.

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A segunda história coloca os judeus em um papel diferente da primeira. Em 2002 o governo de Isral começou a construção de um muro isolando a Cisjordânia, ocupada por muçulmanos. Por décadas seguidas a região é palco de guerras entre estes e os judeus. A obra ainda não está terminada, ao final terá 721 Km de extensão e terá roubado 10% do território da Cisjordânia para Israel. A construção, condenada pelo tribunal da ONU, prossegue. Murro da Cisjordânia, 2002-.

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Começou o cercamento de favelas no Rio de Janeiro. Com o pretexto de preservar as matas da cidade o governo começou a construir muros em limites de favelas. A medida não afeta o crescimento de condomínios com terrenos caros, que da mesma forma ocupam territórios a ser preservados. Ao que parece, querem impedir o avanço de pessoas pobres sobre a natureza, ou sobre qualquer coisa.

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O município do Rio de Janeiro possui défcit habitacional acima de 500.000 domicílios e crescimento demográfico de 1,3% ao ano. Temos uma das maiores desigualdades sociais do mundo, o que coloca parte considerável da população impossibilitada de ter acesso a terra por meio convencional, a compra. Buscamos uma solução para o problema construíndo muros, afinal, quem sabe assim as pessoas não param com a mania de morar em algum lugar.

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Uma questão semântica. Segundo jornalista do jornal O Globo "o investimento será de 40 milhões de reais". Não sei quantas casas podem representar este dinheiro, que é nosso, nem foi isso o que mais me chamou atenção, a primeira vista. Rápidamente arruma-se desculpas técnicas, com discursos bem amarrados, baseados em sei lá o que, para justificar este gasto. Mas investimento? Como assim?

Vejo um mundo em que cidadãos, habitantes de áreas pobres, não derrubarão muros contruídos pelo Estado para impedir o seu avanço… Ops! Acho que dormi. Imagino o muro poupando dinheiro do cidadão, afinal, uma parede já está pronta, só faltam três para morar. Segundo os técnicos é de concreto, deve valorizar o imóvel.

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No caso acima, podemos colocar fiscais armados (polícia, ou quem sabe o exército) que garantam o respeito a obra pública. A pressão sendo muita, resta a opção de diminuí-la reduzindo a população habitante de áreas irregulares com crescimento desordenado (favelas), alguns projetos do gênero foram aplicados eficasmente na Alemanha. Podemos contar com o aval da igreja de Adolf Hatzinger nesta iniciativa.

Alguém pensou em distribuição de renda???

Heil Cabral! Finalmente temos nosso muro.

domingo, 22 de março de 2009

Gente coisa


Ser criança - Vila Velha, upload feito originalmente por Priscilla Buhr.

Eu queria portas. Portas abertas. Passagens. Não encontrei imagem boa que me servisse. Apenas muitas portas, geralmente fechadas. Queria portas de escola, deviam estar abertas. E este texto deveria ser sobre outra coisa. Escravidão, pessoas transformadas em coisa, objetos. No fundo acho que ainda vai ser.

Coisa é como os pequenos são tratados. Li esta semana texto do Rubem Alves sobre as crianças que não existem, são todos adultos potenciais, futuros produtores de algo. O que vão ser quando crescerem, esta é a questão que guia a educação, de modo que é estranho pensar no que são neste exato momento. São inúteis, não servem, só sabem pensar em diversão, brincadeiras e coisas prazerosas, e cabe a nós, profissionais da “educação”, estirpar a criança e fazer aparecer o adulto produtivo. Temos tempo para isso, doze anos. Autoridade também nos é dada, podemos classificar quantitativamente (ninguém questiona os números) aqueles mais ou menos capacitados. Os pais adoram isso, pedem para que classifiquemos, confiam naqueles que classificam - prova toda a semana, essa escola é forte – e castigam os classificados.



Os professores reclamam: o salário é ruim; os alunos não são bons; ninguém me valoriza. Querem atenção, são egocêntricos. Alguns, bem-sucedidos no egocentrismo, conseguem reconhecimeto, acredito que mais como showmans do que como educadores.



Experiência inestimável, como educador, é corrigir caderno de criança. Como coisa de momento, é fantástico ver como eles percebem o que trabalhamos. Sem contar as coisas que aparecem, desenhos, adesivos e outras coisas que povoam o mundo em que vivem. Como coisa temporal, é bonito acompanhar o crescimento, a aprendizagem, as mudanças ocorridas ao longo do tempo em que convivemos.


Quem chegou até aqui neste post não deve ter sido com muita alegria. Não é um quadro feliz e povoa memória de momentos desagradáveis pelos quais passamos, aos quais muitos pais submetem seus filhos, o que ainda acontece nas escolas. Mas minha mensagem não é de desesperança. Podemos ver nessas pessoas de pouca idade pessoas agora, não futuras. Podemos abrir as portas para que passem, olhem, apreciem e continuem a andar.



Faço minha propaganda. Venham para o GAIA, gostamos de gente feliz.

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Faço aqui um adendo. Procurei uma imagem de portas abertas e não achei. Felizmente, com ajuda da Bia, agora tenho uma imagem que preste a uma figuração de minha idéia.

quinta-feira, 12 de março de 2009

O que mais fizeram com o hífen?

Alguns dias atrás me deparei com a questão do hífen na nova ortografia reformada. Nada entendi, o que tinham feito com o hífen. Me diverti escrevendo um post que gostei. Então veio a Beatriz e tranformou o que eu fiz em algo mais legal. O hífen virou coisa mais divertida. Obrigado Bia.

“• Obrigatório quando prefixo está diante de uma palavra iniciada pela letra H, não importando a letra que termine o prefixo: “o SUPER-HOMEM é muito ANTI-HIGIÊNICO: nem toma banho antes de trocar a roupa pelo uniforme com o qual pratica seus atos SOBRE-HUMANOS!”
• Nunca quando o prefixo termina em vogal diferente do segundo elemento, se este também começar com uma vogal: “tal comportamento de nosso herói é muito ANTIEDUCATIVO!”
• Se no caso acima o prefixo for CO e o segundo termo começar com O o hífen cai assim mesmo, nos dando como resultado COOalgumacoisa: “se ele pelo menos usasse perfume, eu até poderia COOPERAR nas missões.”
• Nunca quando o prefixo termina com vogal e o segundo elemento começa com consoante, desde que não sejam R nem S: “está certo que tudo pode não passar de uma tática de AUTOPROTEÇÃO: fedido, quem vai ousar chegar perto dele?”
• Se o prefixo termina em vogal e o segundo termo for iniciado por S ou R basta suprimirmos o hífen e repetirmos o R ou S (o que for adequado ao caso): “se bem que, para mim, isso é coisa de gente ANTISSOCIAL, que se acha ULTRARRESISTENTE. Bom, ele até pode ser, mas tem a criptonita...”
• Caso o prefixo termine com a mesma vogal que inicia o segundo termo o hífen continua, desde que se guarde a exceção COO, já comentada acima: “acho que ele deveria praticar um pouco de AUTO-OBSEVAÇÃO. Na certa, iria perceber que CONTRA-ATACAR os inimigos não requer deixar de lado os hábitos mais elementares de higiene.”
• Sempre se o prefixo tiver como última letra a mesma consoante que inicia o segundo termo: “Está na cara que ele não é SUPER-ROMÂNTICO!”
• Nunca se o prefixo terminar em uma consoante diferente à que inicia o segundo termo: “Mas ninguém pode negar que seja SUPERPROTETOR.”
• Contrariando a regra acima, sempre que o prefixo for SUB e o segundo termo começar com a letra R o hífen fica onde sempre esteve: “deve ser porque ele acha que pertencemos a uma SUB-RAÇA e que necessitamos de sua proteção incondicional.”
• Novamente contrariando a regra, se o prefixo for CIRCUM ou PAN e o segundo termo começar com M ou N também colocaremos o hífen: “ouvi dizer que ele é perito em CIRCUM-NAVEGAÇÃO ao redor da Terra. Quando cansa de voar, ele navega...”
• Sempre que o segundo termo começar com uma vogal e o prefixo for CIRCUM ou PAN o hífen deve separá-los: “No PAN-AMERICANO, acho que o vi voando pelos ares, zelando pra que nada saísse errado.”
• Nunca se o prefixo terminar em consoante e o segundo termo começar com uma vogal: “e ele faz tudo isso por ser SUPEREXIGENTE consigo mesmo.”
• Os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró sempre são sucedidos por um hífen: “Mas tem uma coisa capaz de mandá-lo para ALÉM-TÚMULO, uma coisa que apenas mencionamos antes: criptonita.”
• Deve-se usar o hífen com todos os prefixos de origem tupi-guarani (caso a origem seja em algum outro tronco linguístico dos povos pré-cabralinos ligue para a Academia Brasileira de Letras). “Só existe uma planta capaz de neutralizar os seus efeitos no corpo de nosso herói: o CAPIM-AÇU.”
• Deve-se usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares: “Para encontrar essa iguaria, somente cruzando a ponte RIO-NITERÓI.”
• No caso das palavras que perderam a noção de composição o hífen não deve ser usado: “ou ele pode sobrevoar o país e descer de PARAQUEDAS quando chegar.”
• Caso sua composição não caiba em uma linha e você precise passar para outra justamente na hora em que for usar uma combinação com hífen deve-se colocar o traço que separa as palavras no final da linha. Na próxima linha o hífen será colocado para manter a clareza gráfica: “E é aqui que nossa história termina, pois neste exato momento, CONTA-
-SE que ele foi viajar, certamente atrás da planta que pode curá-lo.”

11 de Março de 2009 19:34

terça-feira, 10 de março de 2009

Divina Comédia

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Estavam numa roda de bar, os três amigos, e discutiam sobre a vida de Dante. Cachaça ne mesa, um dizia “O cara passou o inferno” e os outros concordavam. “Como era mesmo o nome do cara que ajudou?” outro perguntava. De forma desorganizada, garrafa esvaziando, vão lembrando dos acontecimentos.

“Foi a Beatriz” disse João. Como assim Beatriz? Os outros não entenderam. “Me disseram que Beatriz soube de Dante, que ele tava perdido, meio perturbado” e continuou “ela ligou praquele cara, como é mesmo o nome?” Caio Cesar achava que era Dejair e disse “Dejair, era esse o nome”. A memória é coisa meio ruim, atrapalhada pela cachaça não melhora e Saramago virou Dejair para aqueles três. “Então, Beatriz ligou, ela não podia ir lá, então ligou e o Dejair foi ajudar. Quem me disse foi a própria Maria, ela que viu Dante na rua e contou pra Beatriz”

Aos trinta e três anos Dante se encontra diante de um grande dilema. Seu caminho estava barrado. Dante pensa então em parar, desistir de sua caminhada pela estrada que não conhecia, e nem sabia onde iria parar. Por que enfrentar os perigos de qualquer caminho por algo desconhecido. Por que continuar se depois de tanta caminhada tinha apenas o rumo entravado por bestas?

Dante, em suas dúvidas avistou um homem. Reconheceu Saramago, que vinha a pedido de Beatriz, informada por Maria.

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Fica a minha homenagem (atrasada) às mulheres que aparecem, intercedem, ou que simplesmente existem, mesmo que muitas vezes não devidamente reconhecidas.

quarta-feira, 4 de março de 2009

O que fizeram com o hífen?


Um operário em construção, upload feito originalmente por Cida Garcia.

A reforma ortográfica teria sido um grande problema para mim, caso eu soubesse escrever decentemente. Como nunca soube e provavelmente nunca saberei, observo à distância quem se esforça para ficar dentro das regras.
Segundo o guia PRÁTICO Michaelis da reforma o hífen fica da seguinte maneira:

  • Obrigatório quando prefixo está diante de uma palavra iniciada pela letra H, não importando a letra que termine o prefixo
  • Nunca quando o prefixo termina em vogal diferente do segundo elemento, se este também começar com uma vogal
  • Se no caso acima o prefixo for CO e o segundo termo começar com O o hífen cai assim mesmo, nos dando como resultado COOalgumacoisa
  • Nunca quando o prefixo termina com vogal e o segundo elemento começa com consoante, desde que não sejam R nem S
  • Se o prefixo termina em vogal e o segundo termo for iniciado por S ou R basta suprimirmos o hífen e repetirmos o R ou S (o que for adequado ao caso)
  • Caso o prefixo termine com a mesma vogal que inicia o segundo termo o hífen continua, desde que se guarde a exceção COO, já comentada acima
  • Sempre se o prefixo tiver como última letra a mesma consoante que inicia o segundo termo
  • Nunca se o prefixo terminar em uma consoante diferente à que inicia o segundo termo
  • Contrariando a regra acima, sempre que o prefixo for SUB e o segundo termo começar com a letra R o hífen fica onde sempre esteve
  • Novamente contrariando a regra, se o prefixo for CIRCUM ou PAN e o segundo termo começar com M ou N também colocaremos o hífen
  • Sempre que o segundo termo começar com uma vogal e o prefixo for CIRCUM ou PAN o hífen deve separá-los
  • Nunca se o prefixo terminar em consoante e o segundo termo começar com uma vogal
  • Os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró sempre são sucedidos por um hífen
  • Deve-se usar o hífen com todos os prefixos de origem tupi-guarani (caso a origem seja em algum outro tronco linguístico dos povos pré-cabralinos ligue para a Academia Brasileira de Letras)
  • Deve-se usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares
  • No caso das palavras que perderam a noção de composição o hífen não deve ser usado
  • Caso sua composição não caiba em uma linha e você precise passar para outra justamente na hora em que for usar uma combinação com hífen deve-se colocar o traço que separa as palavras no final da linha. Na próxima linha o hífen será colocado para manter a clareza gráfica


Simples como ser feliz.
Mas ainda não sei o que fazer com ar-condicionado (arcondicionado).